quarta-feira, 14 de março de 2007

O cristal quebrou...


Pronto. É isso.
Para quem tem mais de vinte e cinco anos, o diálogo irreconhecível acima precisa ser identificado – Sim, é de Didi (Renato Aragão). Para quem tem menos e se acostumou a ver o aparvoamento dos domingos na forma da Turma do Didi, ele é perfeitamente normal e totalmente sem graça, só isso.
Mas não pode ser simples assim. Quando era Didi, Dedé, Mussum e Zacarias era impossível não se deliciar desde a abertura e curtir bons momentos de um humor que parecia uma mistura de Mazzaropi, Carlitos e Oscarito. Didi era o eterno vagabundo a procura de um amor, os outros os amigos que atrapalhavam, e tudo caminhava no mais perfeito rumo do humor. Tudo dava certo. Bastidores a parte – a vida dos quatro nem sempre foi feita de flores – Os Trapalhões foi um marco do humor nacional, um período de ouro para a Rede Globo, onde os domingos não eram tocados a berros por Fausto Silva, mas sim por Abelardo Barbosa e seu Chacrinha. O máximo de nudez e apelação era Rita Cadilac em seu maiô jacaré de chacrete, ou o bacalhau do Russo. E todos iam para o trono depois dos Trapalhões.Com a morte de Zacarias, depois Mussum, as duas pontas remanescentes do quarteto alegre continuaram a se estranhar, cada qual com sua forma de fazer humor. Daí veia depressão e megalomania de Aragão, que o fez desejar se tornar Charles Chaplin nacional – sua produção de filmes continuou extensa, mas a riqueza dos roteiros e encanto das histórias foi ladeira abaixo. Não se questiona o valor social de Aragão, embaixador da Unicef e figura que é importante na luta pelas causas deste sentido. Questiona-se a magia que ficou perdida.Dedé, passou a ser quase mendicante, procurando brechas para fazer seu humor, decaindo enquanto seu colega lhe fechava portas e mesmo sem qualidade, subia. Mas a roda girou, e Beto Carrero encontrou Dedé Santana para que ele formasse o que hoje vemos aos domingos no SBT – um programa que é léguas mais interessante que a Turma do Didi e seu elenco irritante (exceto por Tadeu Mello), e que dá show de humor – apesar da atriz que encabeça a Batatinha. Renato Aragão perdeu a mão do humor no momento em que resolveu só fazer crianças sorrirem – e isso talvez ele não saiba fazer dessa forma. Aragão foi brilhante quando fazia a família toda sorrir, a começar pelos adultos – e os pequenos eram apenas mais um resultado. Resultado de tudo isso: o diálogo acima, pretensamente engraçado; a Turma do Didi, um comboio do inferno de atores variantes e variados e um domingo que podia ser muito, muito mais, perdido em piadas e fantasias que há muito perderam o encanto.
Uma pena.
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